19.8.09

Dupla Realidade.

Preciso de voltar a viver 'sozinha'!
Sei que parece louco da minha parte, mas sinto falta de estar comigo mesma, de mandar em mim ao invés de estar constantemente a ouvir ordens de gente que me rodeia.
Não é que não goste de os ter por perto, gosto muito, são os culpados pela minha vinda ao mundo e eu gosto mais deles do que tudo o que existe. Só que o facto de me ter habituado à liberdade não ajuda nada.

Aqui tenho de aturar a minha avó materna que só de a ouvir falar só me apetece chorar (é completamente insuportável), tenho de ouvir as brincadeiras parvas e acriançadas do chato do meu irmão e tenho de conviver com as ordens, com as imposições dos meus queridos paizinhos, sem falar que estou a 2km do centro e a carta ainda está a ser tirada.

Eu adoro cabeceiras, é a vila que me viu crescer e apesar de pouco evoluída é perfeita para descansar, para estar com os amigos e para manter essas amizades visto que toda a gente se conhece (o que também tem o lado negativo, comenta-se a vida de toda a gente, não sei se é bem negativo, torna-se até engraçado, mas quando não é em exagero).

Penso nisto bastantes vezes. Como estarão as coisas daqui a 10 anos por exemplo?
Confesso que esta realidade me perturba e que já tive noites em branco só de pensar neste assunto. As coisas mudam, as pessoas envelhecem e cada um segue o seu caminho.
Não gosto desta forma de pensar, mas a vida impôs-nos esta regra: "Nasces, vives e morres" e temos de aproveitar ao máximo o tempo que cá estamos.
Mas não, custa ter de me conformar com tal coisa.
Não me consigo sequer imaginar sem o meu pai, o meu orgulho, o meu herói, aquele que se não fosse meu criador seria certamente o homem da minha vida. Ou então sem a minha mãe, aquela com quem passo a vida a discutir, mas com quem tenho uma imensa cumplicidade e que é sem dúvida a minha melhor amiga, aquela que independentemente de tudo sempre me acompanhará.

Oh.. a sério, custa tanto por o tico e o teco a trabalhar sobre isto!

Hoje decidi escrever acerca deste tema, a minha rainha, a minha avó paterna tem mudado de dia para dia, a doença tem levado consigo todos os atributos que ela tinha, desde a escrita à fala, à leitura, à compreensão. Levou-lhe até a vaidade, sim, adorava ver a minha avó a pintar os seus lábios de vermelho e a colocar o 'brushezinho' para se sentir mas bonita. Eu sempre olhei para ela com um brilhozinho nos olhos. Ainda me recordo dos tempos em que roía as unhas e dizer à minha mãe: ', vou deixar de roer para puder ter as unhas grandes como a !'. A minha mãe ria-se e ela também, a verdade é que consegui. Lembro-me também de ela me dizer: 'Joana, põe as costas direitas e encolhe a barriga, uma mulher tem de andar direita e ter postura!'.
Ela, a professora, a que cuidava de doentes dando-lhes injecções (entre outras coisas), a minha avó já nem parece a mesma..
O Alzheimer tirou-lhe a essência, tal como se a estivesse a sugar..
A velhice, a doença, a tristeza e o desgosto de ter perdido o homem que amava foram-na destruindo e continuam a fazê-lo..
E dói tanto.

Dói e dói mais recordar o meu avó paterno, aquele que faleceu há cerca de 3anos e de uma forma tão repentina. Recordo os beijos que a minha avó lhe dava enquanto ele, já sem perceber nada, estava deitado no quarto.
Recordo os princípios da maldita doença que o levou para bem longe de nós, quando ele só se queria rir, e dava gargalhadas, e dizia coisas engraçadas. Isso foi-se apagando e poucas semanas depois já estava imóvel, tal e qual uma criança quando nasce, indefesa, sonolenta e sem qualquer tipo de compreensão exterior ou mesmo interior.

Não gosto de regressar a estes tempos, mas é indispensável.
Estas pessoas marcaram, marcam e marcarão a minha memória, a minha existência, a minha vida e jamais deixarão de fazer parte da minha realidade.

E depois vêm os amigos, aqueles que chegando uma altura, uma época da nossa evolução se espalharão, quem sabe pelos quatro cantos do mundo. Não quero perder contactos, quero que sejamos velhinhos e que nos juntemos para voltar aos velhos tempos, quero que eles estejam comigo em todos os momentos da minha vida, porque são como da família! Os meus amigos são a minha segunda família e o que mais lhes peço é que lutem por a união de que falo, para que nunca nenhum de nós 'perca o fio à meada'.

Cresce aqui a saudade da minha infância (embora com épocas conturbadas), do nada nos preocupar, da inocência, de ter os meus pais e avós juntos de mim e ainda tranquilos..

Apetece-me não mais crescer, ficar assim, parar por aqui para que mais envelheça.
Mas '
São emoções que dão vida à saudade que trago'..
Por isso quero passar o maior tempo junto daqueles que amo, daqueles que jamais me abandonarão. Mas apesar disso preciso do meu espaço, das minhas coisas, das minhas próprias decisões.

Estou tal e qual o suporte de uma balança, com dois pratos e sem saber por qual torcer mais..

É uma dupla realidade..


'Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
(...)
A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade'
Mariza


P.s: Hoje sou nostalgia..


"Sonha como se vivesses para sempre;
vive como se fosses morrer hoje.
"


5 comentários:

QV4 disse...

muy bueno el blog !!! saludos desde Argentina.

Gininha * disse...

Pois e...

A dupla realidade =)

Queremos tanto largar as asas dos papas, mas tambem queremos a protecção dos seus ninhos =)

Por mim terás sempre o meu apoio =)

ÉlsioAfonso disse...

Tás proibida de ouvir a Transmontuna... Já k só elogias a Mariza.


Probably o teu melhor post

Mia disse...

Um texto mesmo muito bonito :')
sobretudo gostei da forma como falas da tua avó. beijinho

anita disse...

Ju* tu nunca vais crescer...vais ter sempre o teu lado de infancia dentro de ti*** tudo que dizes vais te lembrar por toda a tua vida...marcou t** por muito que tentes nao esquece, faz parte da tua vida.....
Mas acredita que o tempo vai passando e vais criar outras recordaçoes.....daqui a 5 anos vao haver mts recordaçoes.....
=)
Mas quem marca,marca para sempre........**********
beijuuu