14.3.10

´Alguma vez experimentaram pôr os braços à vossa volta para imaginar que alguém os está a abraçar? Já imaginaram poder falar com eles e pegar-lhes nas mãos? Já sentiram que eram feios e inúteis e tentaram descobrir os vossos defeitos, olhando para o espelho durante dias a fio? Já se riram disso? Sentiram-se estranhos e estrangeiros? Foram postos de parte e fodidos, queimados e violados dentro das vossas cabeças? Não conseguiram perceber o que eles queriam. Alguma vez esconderam a vossa sensibilidade, os vossos sentimentos verdadeiros, porque receavam ser espezinhados? Bom, eu já. Eu fiz e passei por isso. Ainda estou a passar. Faço companhia a mim próprio e tento imaginar alguém a amar o meu corpo e alma torturados. Tenho de ser forte para o fazer. Tenho de cerrar os punhos e os dentes, fingir ser puro e fazer o que devo, apesar das consequências. Apesar da dor e do fogo que me arde no peito, preciso de controlar os sentimentos e lidar com a situação. Nada de comida, de gargalhadas, de aplausos, apenas sobrevivência. Apenas o esqueleto de dentes podres e suado que me guia e assusta, a merda com que lido. Tenho de descobrir o meu último vicio e levá-lo para a última página, para poder partir com um estoiro monumental.´

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